Começo a minha análise sobre a eliminação do Benfica da Liga Europa por três pontos prévios:
1. Não vou escolher a tese de alguns de que o Benfica estava cansado porque não beneficiou dos adiamentos de jogos em véspera europeia, como outros no passado. Ou sequer a tese de que jogámos pressionados na Naval porque o Braga foi inqualificavelmente benficiado.
2. Não vou ilibar Jorge Jesus de algumas decisões, apenas porque é um dos melhores treinadores (eu prefiro chamar-lhe Manager) que o Benfica das últimas décadas teve. Por outro lado é fundamental enquadrar essas decisões.
3. Não vou justificar quatro golos do Liverpool com um erro do árbitro nos instantes iniciais e que colocaria o Benfica, possivelmente, a vencer por 0-1, dado que anulou uma jogada em que Martins aparecia na cara de Reina
Vamos lá a factos: Esta eliminatória começou a ser "perdida" na cabeça de Jorge Jesus quando, justificadamente (repito: justificadamente), teve um pensamento semelhante ao de Bela Guttmann e deixou entender que este Benfica não tinha soluções que lhe permitam fugir da máxima do treinador hungaro da década de 60 que dizia: "só tenho um rabo e não posso querer sentar-me em duas cadeiras ao mesmo tempo", a propósito da disputa do campeonato nacional e Taça dos Campeões Europeus.
Sejamos honestos, o Benfica (ainda) não tem efectivamente soluções que permitam gerir algumas pedras basilares ao longo da época de modo a ser possível um intensidade de jogo elevada em todas as competições. Nesse enquadramento, a escolha de Jorge Jesus é absolutamente justificada ao optar pelo Campeonato Nacional face à Liga Europa.
Contudo, na minha perspectiva, penso que poderia ter passado uma mensagem mais forte aos jogadores, ao invés de cedo (e publicamente) vir temer as lesões, o cansaço e entregar ao Liverpool as mesmas hipóteses do SLBenfica, ao fim ao cabo, estávamos em vantagem.
Novamente, e fazendo de advogado de defesa sobre o meu próprio argumento de "acusação", penso que o risco de incentivar os jogadores a lutar, poderia levar um grupo de bravíssimos guerreiros a atingir limites que trouxessem lesões. Todos sabemos que, quando não há corpo (disponibilidade física), não há cabeça (inteligência de jogo) e quando não há inteligência de jogo... a probabilidade de ocorrerem lesões é maior.
Olhando para o passado e para o exemplo de José Peseiro no Sporting, penso que poderemos compreender inteiramente Jorge Jesus, apesar de - como adeptos - desejarmos outra garra.
A segunda questão que coloco é a das opções tácticas, mas que mais uma vez encontro uma acusação e uma defesa para o mesmo argumento: Alterar 4 em 5 jogadores na defesa quando iamos enfrentar um adversário muito forte e rápido em termos atacantes é... muito arriscado.
Maxi Pereira está fora de AlvaLIDL e não jogou... Durante o jogo a posição de defesa direito foi ocupada por Amorim, Ramires e até Martins em alguns momentos pontuais do jogo. Dado que o Maxi irá descansar na terça-feira, não seria melhor apostar num jogador com rotinas hoje?
Fábio Coentrão é um jogador rápido e agressivo; David Luiz é o melhor central a actuar em Portugal, mas um mediano defesa esquerdo. Ao mesmo tempo Sidnei é um jogador sem rotinas e velocidade de processos e Luisão estava fisicamente debilitado.
Agora, depois de "aberto o melão" e que já podemos saber-lhe o sabor, é fácil dizer que aposta em Maxi teria sido mais inteligente, como teria sido mais eficaz poupar Luisão na Naval e dar-lhe jogo hoje ou nem sequer em nenhum dos dois jogos, mantendo David Luiz no centro e Fábio Coentrão na esquerda.
Mais uma vez... e fazendo fé no que Jorge Jesus disse, as alterações iam ser feitas com base em alguns jogadores estarem no limite. É o caso de Maxi e Coentrão (correm kilometros por jogo)??? Só ele saberá. Se é o caso... JJ fez a única coisa que podia, se não é o caso e se foi por opção, penso que terá errado.
A última questão prende-se obviamente com Julio César, para quem desde já apresento os meus votos de rápidas melhoras e dou conta da forma como fiquei impressionado com a sua lesão que me aparentou ter-lhe tolhido a visão.
Júlio Cesar foi o guarda-redes em toda a campanha da Liga Europa. Diga-se em abono da verdade que... nunca impressionou. Contrariamente à minha expectativa inicial, pareceu sempre algo inseguro. Ainda assim era a escolha de JJ atribuir a baliza da Liga Europa a Júlio César, uma escolha pessoal sua, que acredita ser uma opção para o futuro da baliza do SLBenfica.
Dizem as "crónicas de caserna" que o Júlio César é o único jogador, entre os guarda-redes, com lugar garantido para 2010/11. A época de Quim penso justificar que assim não seja.
Júlio César voltou hoje a falhar, mas mais uma vez "só se sabe a qualidade o melão depois de o abrir e aí é fácil". Dizer agora que a baliza deveria ter sido entregue a Quim é uma análise tão justificada (porque é efectivamente o melhor), como injusta.
O que estaria Jorge Jesus a fazer à confiança de Júlio César se quando chegassem os momentos decisivos optasse por entregar a baliza a Quim? Seria justo? Estaria a dar uma mensagem de confiança ao jogador? Não... seria tremendamente injusto fazê-lo nesta altura.
Em resumo, boas ou más, o jogo de hoje foi acima de tudo fruto de um conjunto de decisões que tiveram que ser tomadas por um treinador, isoladamente, que está ao nível dos melhores do Mundo. Erradas ou não, justificadas ou não, só ele saberá, mas ele habituou-me a que decide bem, que decide para GANHAR, pelo que é totalmente injustificado apontar-lhe o dedo.
Por outro lado, o facto de não querermos apontar o dedo, não significa que não sejamos suficientemente inteligentes para saber analisar ou avaliar as diferentes variáveis. Sim, é fácil falar nas opções, eu próprio assumi antes do jogo que considerava a colocação de David Luiz na esquerda um tremendo erro... mas, e se Fábio Coentrão está em limite físico????
Posto isto, a leitura que faço é a de que Jorge Jesus escolheu o melhor caminho para o SLBenfica. O caminho de dar um passo de cada vez rumo ao acordar definitivo do gigante de Portugal, da Europa e Mundo (por esta ordem, precisamente). Jorge Jesus terá até, possivelmente, "desejado" (atenção às aspas) esta eliminação para acautelar a capacidade de atingir todos os demais objectivos a que se propõe, na certeza que a campanha europeia teria quase seguramente um elevadíssimo impacto no campeonato nacional... um campeonato CORRUPTO como todos sabem, e que não hesitaria em aproveitar-se dessa fragilidade do SLBenfica.
Hoje vimos um Benfica que entrou com vontade e determinação, mas sem a confiança que o caracteriza e que, com o tempo e cansaço, foi-se perdendo e entregando. Não é esta uma crítica mas uma constatação justificada pelas linhas do parágrafo anterior.
Esta eliminação deu-me uma certeza... a de que seremos inabalavelmente campeões e que iremos vencer sem mácula o SportingCP já na próxima terça-feira.
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